Nossaaa , muito profundo, ainda da série dos textos da Glória Arieira , Gratidão!
Para refletir !!
Boa semana a todos,
_/\_
Olhar para si próprio
Swami Dayananda
Olhar para si próprio, além de ser através de um espelho,
não é
comum mas possível, quando feito com uma total
imparcialidade.
Tal “olhar para si” carrega revelações muitas vezes
assustadoras, mas frutíferas.
Cada um a seu modo esforça-se para provar a si mesmo e aos
outros que é bom. Se alguém faz tal esforço é porque tem um valor para o que é
considerado por ele bom comportamento. Na maneira de se comportar, em resposta
aos diferentes acontecimentos e situações na vida, ele faz esforço para
comportar-se como uma boa pessoa, pois sabe que a bondade recompensa.
Mas é ele realmente bom? Para sua satisfação ele pode ter
passado por um bom homem. Todo criminoso, até que seja descoberto, faz a mesma
coisa e, mesmo depois da prisão, tenta provar a existência de circunstâncias
que o compeliram ao crime. E ainda continua a se esforçar para ser um bom
homem. Mas, então, ele é bom?
Se um homem é bom, não deve haver esforço de sua parte para
ser bom. Uma vida boa é espontânea para ele. É neste ponto que ele deve parar
para olhar para si mesmo.
Bom, genial, homem respeitável, qualquer que seja seu
caráter interior, ele precisa submetê-lo à consideração do mundo. Se ele
atribui tão grande importância a uma vida boa e honesta, não é importante que
tenha um olhar para dentro e descubra, para si mesmo, o que ele realmente é?
A questão “sou tão bom quanto gostaria de parecer” coloca-o
num estado de espírito diferente. Ele agora começa uma vida verdadeira. Ele
despertou! Desperto ele está para sua vida, até aqui superficial, mecânica e
muitas vezes hipócrita.
Um detalhado olhar para dentro, sem arrependimento ou
autopiedade, lhe oferece uma plataforma dentro de si mesmo, através da qual ele
olha para o que ele mesmo tem sido. Com isto a velha plataforma de operação é
abandonada e também tudo o que foi necessário para criar a vida superficial e
falsa.
Ninguém é sincero com os outros se não for consigo mesmo.
Porque tentar ser sincero, sem primeiro sê-lo interiormente? Olhe para si
mesmo, por favor, é aí que começa a sinceridade, pois até para olhar para si
mesmo precisa-se ser verdadeiro.
Nós já temos valor por uma vida sincera.
O problema de alguém ter de nos convencer do valor por uma
vida sincera não existe. Sabemos seu valor, por isso exibimos uma fachada para
passarmos por bons. Portanto, a única coisa que resta a ser feitos para ser bom
é ter um profundo olhar para si mesmo.
Podemos descobrir que não temos sido sinceros. O que
importa? O reconhecimento de termos sido falsos é necessário para sermos
verdadeiros. No reconhecimento de termos sido falsos está o começo da vida
sincera.
Portanto, não há razão para lamentação nem para condenar a
si próprio. O reconhecimento de que somos falsos é para sermos sinceros com nós
mesmos. Neste instante nos tornamos sinceros. Isto não requer nenhum
conhecimento de nossa parte nem requer algum apoio extermo. Somente um
deliberado “olhar para si mesmo” o mudará, o transformará. Isto é possível, não
é mesmo?
Buscando diversões em clubes, cinemas e na companhia de
amigos, devemos reconhecer que estamos receosos de nós mesmos, amedrontados de
estar com aquilo que hoje somos - vazios, inseguros, inadequados. Suponhamos
que fôssemos plenos, seguros, adequados, nós estaríamos felizes com nós mesmos,
não seríamos levados a buscar diversões. O que ganhamos em diversões não é nada
mais que uma capa para encobrir a nós mesmos, para enganar-nos, pois
encarar-nos significa convidar a tristeza e o desespero. Uma vez descoberta uma
maneira para fugir de encararmos a nós mesmos, será difícil livrarmo-nos dela.
Os sistemas políticos atuais e as sociedades influenciadas
por eles submetem-se a uma variedade de diversões em nome do “bem estar”.
As ocasiões para se estar consigo mesmo tornaram-se raras,
pois as diversões são muitas. Vivendo em tal sociedade, o homem a despeito de
toda a sua educação torna-se a cada dia que passa mais “escapista” do que
antes. O conceito de sucesso na vida agora significa a capacidade de dirigir
diversões. Os ricos e também aqueles que desejam riqueza, ambos procuram
diversões. Os primeiros, as dispendiosas, os outros, as baratas.
Uma vida com uma organização menos artificial pode colocar o
homem em seu próprio colo mais vezes do que ele poderia desejar e, nesses
momentos solitários, ele pode descobrir mais sobre si mesmo. Isto não é
possível nesta era de velocidade e interferência mútua. Mesmo no caso de se
fugir para o campo, existe a probabilidade de tornar-se “louco” sentindo falta
das diversões habituais. Parece não existir forma de escapar do “escapismo”.
Um apelo para voltar-se à religião pode soar como outro
chamado para um diferente tipo de diversão. Peregrinações, sat-sangas, estudo
de escrituras, preces, rituais, todos estes parecem oferecer as mais variadas
fugas. É verdade que podem ser diversões.
O que é uma diversão? Diversão é alguma coisa que o ajuda a
afastar-se de si mesmo, de sua não tão feliz pessoa. Uma religião organizada,
centrada numa doutrina prometendo liberação depois da morte, só pode oferecer
uma forma para escapar e, portanto, nela se pode, talvez, encontrar somente
diversão. Mas, uma religião como é nossa tradição, cujo objetivo é o
autoconhecimento, é algo diferente das religiões que são condenadas, talvez com
razão por alguns psicólogos e dialéticos materialistas.
Se o autoconhecimento é o objetivo e a base da tradição
hindu, os vários métodos de prática que ela oferece, incluindo o estudo das
escrituras, volta o homem para dentro de si para reconhecer e alcançar o que
essencialmente é. Na visão das escrituras hindus, o homem é essencialmente
puro, divino, perfeito, pleno, seguro e seu objetivo é, portanto, fazê-lo reconhecer-se
a si mesmo. Então, todas as práticas que elas oferecem não são diversões, pois
levam o homem não para longe de si mas para si próprio.
No estudo das escrituras, buscamos o conhecimento do Eu. Nas
preces, nós buscamos a nossa própria elevação. Nas peregrinações, buscamos a
nossa própria companhia. Nos rituais, buscamos o nosso próprio exílio. Na
meditação, buscamos a nossa própria dissolução e a descoberta de nós mesmos.
Cada prática escolhida, com o conhecimento de seus objetivos e sua própria utilidade,
nos colocará em condições de vivermos felizes com nós mesmos e depois na
própria felicidade.
Isto não nos custa muito, como outras diversões, mas
significa muito mais para nós. Seja o que for que fizermos, o retorno será
infinitamente grande; o que somos agora não é uma barreira, mas exatamente o
bastante para começarmos. A época, posição, lugar- nada isto bloqueia o
caminho. Enquanto praticarmos, descubriremos uma duradoura emoção que nenhuma
diversão pode oferecer.
Estamos nós propensos para tal empreendimento? Isto é
possível, não é mesmo?
Palestra proferida nos anos 60
Tradução de Annabella de A. Magalhães
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